O senador russo Konstantin Kosachev está no Brasil acompanhando a presidente do Conselho da Federação, Valentina Matvienko, para participar de reuniões bilaterais em meio à posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O petista assumiu oficialmente o cargo nesse domingo (1º) diante de dezenas de chefes de Estado e representantes de governos do mundo inteiro. Entre esses representantes estão Matvienko e Kosachev, cuja delegação esteve com Lula em Brasília ainda antes da posse para tratar de assuntos de interesse de Rússia e Brasil.
Em entrevista à agência de notícias Sputnik Brasil, Kosachev falou sobre as expectativas em relação ao governo Lula no cenário internacional, os mecanismos de cooperação econômica entre Rússia e Brasil, o desenvolvimento do BRICS e o interesse mútuo na construção da multipolaridade.
Lula quer ‘levar o Brasil de volta ao cenário internacional’
Na avaliação do vice-presidente do Conselho da Federação, ao contrário do governo do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL), Lula tem interesse em reativar suas relações bilaterais em todos os continentes. Segundo Kosachev, Lula pretende “levar o Brasil de volta ao cenário internacional” e esse objetivo deve ser apoiado pela Rússia.
“Essa ambição deve ser definitivamente apoiada pela Rússia, sem dúvida. Trabalhamos de perto com o BRICS nos anos anteriores. É importante lembrar que o Sr. Lula, pessoalmente, foi o líder nacional que mais ou menos iniciou esse formato e, pelo que entendi, ele continua acreditando no BRICS e deseja fazer mais para fortalecer seu potencial”, afirma o senador.
Segundo Kosachev, Lula também tem muito interesse em aumentar o papel da Organização das Nações Unidas (ONU) na solução dos conflitos e dessa forma ampliar o papel do direito internacional. De acordo com o senador, esse interesse é compartilhado com a Rússia.
“É exatamente isso que une Brasil e Rússia, mais do que qualquer outra coisa. Temos certeza de que a atual cadeira do Brasil no Conselho de Segurança [da ONU] pode ser utilizada com eficiência para avançar nesse sentido”, diz.
‘Espero que Lula fortaleça o Brics’
Kosachev aponta que o Brics continua tendo um papel relevante no sentido de “trazer a multipolaridade para as relações internacionais”. Segundo ele, a maioria dos problemas e conflitos globais tem raiz na “tentativa dos países ocidentais de dominar o mundo, de guiar o mundo, de impor à outra parte do mundo seus próprios valores, interesses, padrões”.
Para Kosachev, esse posicionamento do Brics a favor da multipolaridade é um fator que tem ampliado o interesse internacional no bloco. Segundo ele, os países que hoje tentam aderir ao Brics querem apoiar suas ideias e querem contribuir para esse tipo de cooperação.
“Espero que quando o Sr. Lula, como um dos cinco presidentes, estiver de volta ao BRICS, fortaleça definitivamente toda a construção e provavelmente lhe dê um segundo fôlego. E, com isso, definitivamente servir ao mundo inteiro”, aponta.
Brasil e Rússia apoiam mundo multipolar
Kosachev afirma que a Rússia tem interesse na construção de um mundo multipolar “sustentável” e “estável” e que o maior desafio intelectual dentro do BRICS seria o de institucionalizar a multipolaridade.
“O mundo unipolar está bem institucionalizado. O mundo multipolar não é institucionalizado de forma alguma. Sim, temos o direito internacional. Sim, temos a Carta das Nações Unidas, que deve ser mantida tanto quanto possível, mas precisamos desenvolver formatos internacionais, instituições”, avalia o senador.
Para o vice-presidente do Conselho da Federação, é necessária a criação de “regras claras” e “aceitáveis para todos” os países no esforço de criação do mundo multipolar. Segundo ele, isso precisa ser feito de forma distinta do que foi feito pelos países ocidentais que, na sua visão “declararam a ordem baseada em regras sem redigir nenhuma regra, sem mostrar essas regras, apenas fingindo que essas regras existem de alguma forma”.
“É completamente diferente do que foi proposto pelos países ocidentais e tenho absoluta certeza de que todos os cinco países que estão no BRICS, incluindo Rússia e Brasil, estão no mesmo caminho nesse aspecto”, afirma.
Brasil e o conflito ucraniano
O vice-presidente do Conselho da Federação também comentou o interesse de Lula em relação ao conflito na Ucrânia. Ao longo do ano passado, o presidente brasileiro deu mais de uma declaração indicando que apoia um caminho de negociações de paz nessa questão. Segundo Kosachev, esse também é o interesse da Rússia.
“Vemos que o presidente eleito está muito preocupado com o conflito em curso na Ucrânia. O que eu acredito ser uma abordagem muito sábia na qual ele não toma partido, mas quer contribuir para uma solução pacífica e é isso que a Rússia quer, a Rússia quer ver uma solução pacífica para o conflito na Ucrânia o mais rápido possível”, aponta.
O senador pondera, porém, ao afirmar que esse tipo de solução é barrada pelas autoridades ucranianas por influência do Ocidente.
“Se o Brasil puder contribuir com alguma mudança nessa abordagem para que a Ucrânia não fique mais bloqueada em qualquer tentativa de solução pacífica e de negociação, tudo bem. Esse tipo de contribuição será sempre aceita pelo meu país e acredito que será vista com gratidão pela comunidade internacional”, diz.
Caminhos para a cooperação econômica entre Brasil e Rússia
Kosachev ressaltou que o Brasil é tradicionalmente o maior parceiro comercial e econômico da Rússia na América Latina. Segundo ele, cerca de 30% das receitas russas do comércio com a região vêm do Brasil. Dessa forma, afirma o senador, o desenvolvimento das relações entre os países é de interesse mútuo.
O senador salientou que as relações entre Moscou e Brasília são de caráter estratégico e afirmou que durante o encontro entre Lula e a presidente do Conselho da Federação, Valentina Matvienko, ambos os lados demonstraram interesse em manter laços comerciais e aumentar o volume de comércio, além de “diversificar os rumos dessa cooperação”.
“Acho que existem dois mecanismos principais que podem contribuir para resolver essa tarefa. Um deles é o Conselho Empresarial existente que trabalha bastante ativamente e inclui em ambos os lados pessoas de grandes empresas, empresas que estão envolvidas em nossa cooperação bilateral. E o que é igualmente importante, existe outro mecanismo, a chamada Comissão de Alto Nível de Cooperação”, diz Kosachev, acrescentando que essa comissão não se reúne desde 2015, mas pode ser reativada. (com agência Sputnik Brasil).
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