A limpeza do prédio da Boate Kiss recomeçou na manhã desta quinta-feira (4) em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul. A ação serve para eliminar as mais de duzentas substâncias tóxicas que ficaram no interior da casa noturna depois do incêndio no dia 27 de janeiro, que deixou 242 mortos.
Na quarta-feira (3), no primeiro dia de limpeza, foram encontrados 366 peças de calçados das vítimas, peças de roupas, bolsas, carteiras e celulares. Segundo a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), a maior parte estava concentrada perto da porta de saída da boate. Apenas oito técnicos entraram no prédio.
Antes de serem devolvidos a parentes, entretanto, os pertences das vítimas deverão passar por uma descontaminação. A Justiça diz que os familiares deverão contratar uma empresa especializada para fazer a limpeza dos objetos.
“Existe um custo, e há interesse deles (familiares). Então eles vão ter que trazer um plano à Fepam no prazo de 30 dias dizendo o que pretendem fazer com esses objetos”, afirmou o juiz Ulysses Louzada.
Apenas oito pessoas entraram no interior da boate: cinco funcionários da empresa que faz a limpeza e três técnicos da Fepam. Todo o trabalho está sendo registrado em um inventário.
Na quarta, o trabalho encerrou por volta das 18h30. Parte da grade de madeira da fachada da Kiss foi retirada. Os escombros foram colocados em grandes sacolas plásticas. O administrador do prédio disse que nenhum material foi retirado do interior, o que deve começar a ser feito nesta quinta.
“Tem todo um lado emotivo. A gente está ali recolhendo aqueles sapatos todos e lembrando de tudo isso. É difícil”, disse o técnico da Fepam, Mário Kolberg Soares.
Os familiares das vítimas pediram na justiça para que o letreiro da casa noturna e a frente do prédio não sejam alterados. O juiz Ulysses Louzada informou que a limpeza será apenas interna.
“É justamente isso aí que fazer com que as pessoas lembrem da tragédia e que ela não cai no esquecimento”, disse Flávio Silva, presidente de uma associação de vítimas da tragédia.
Na sexta-feira, Louzada fará uma visita para fiscalizar o trabalho e deverá entrar na casa noturna. Os pais de vítimas que passaram a madrugada de terça para quarta-feira no local foram embora após o fim do primeiro dia de trabalho.
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. A tragédia matou 242 pessoas, sendo a maioria por asfixia, e deixou mais de 630 feridos. O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira e se espalhou rapidamente pela casa noturna, localizada na Rua dos Andradas, 1.925.
O local tinha capacidade para 691 pessoas, mas a suspeita é que mais de 800 estivessem no interior do estabelecimento. Os principais fatores que contribuíram para a tragédia, segundo a polícia, foram: o material empregado para isolamento acústico (espuma irregular), uso de sinalizador em ambiente fechado, saída única, indício de superlotação, falhas no extintor e exaustão de ar inadequada.
Ainda estão em andamento dois processos criminais contra oito réus, sendo quatro por homicídio doloso (quando há intenção de matar) e tentativa de homicídio, e os outros quatro por falso testemunho e fraude processual. Os trabalhos estão sendo conduzidos pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada. Sete bombeiros também estão respondendo pelo incêndio na Justiça Militar. O número inicial era oito, mas um deles fez acordo e deixou de ser réu.
Entre as pessoas que respondem por homicídio doloso, na modalidade de “dolo eventual”, estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro Hoffmann, além de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Os quatro chegaram a ser presos nos dias seguintes ao incêndio, mas a Justiça concedeu liberdade provisória a eles em maio do ano passado.
Atualmente, o processo criminal ainda está em fase de instrução. Após ouvir mais de 100 pessoas arroladas como vítimas, a Justiça está em fase de recolher depoimentos das testemunhas. As testemunhas de acusação já foram ouvidas e agora são ouvidas as testemunhas de defesa. Os réus serão os últimos a falar. Quando essa fase for finalizada, Louzada deverá fazer a pronúncia, que é considerada uma etapa intermediária do processo.
globo.com
Foto: Itamar Aguiar/RAW Images/Estadão Conteúdo
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