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Estoques em alta fazem empresas reduzir o ritmo de produção. Expectativa é que o segundo semestre seja mais aquecido.

om a baixa nas vendas, grandes montadoras de carros, caminhões e ônibus continuam adotando medidas para reduzir a produção. Juntas, Ford, Volkswagen, Mercedes-Benz e Man Latin America suspenderam temporariamente os contratos de 2,8 mil funcionários neste ano. A General Motors ainda negocia o chamado lay-off com sindicato de trabalhadores. O setor emprega atualmente 150,3 mil pessoas no Brasil – número 4,2% menor que o registrado em julho de 2013 (156,9 mil).

 As férias coletivas foram o recurso mais usado pelas montadoras até então: muitas pararam durante a Copa do Mundo. Mesmo assim, continuam os anúncios de paralisação temporária. Além disso, algumas empresas abriram planos de demissão voluntária (PDV) e reduziram turnos e jornadas de trabalho com banco de horas. Tudo para adequar a produção ao ritmo mais lento de vendas.

O presidente da associação de fabricantes (Anfavea), Luiz Moan, diz que praticamente todas as empresas estão fazendo ajustes. “As associadas estão tentando preservar ao máximo os postos de trabalho. A redução de efetivo tem sido feita por demissões voluntárias, na maioria de funcionários perto da aposentadoria. O uso do lay-off indica uma expectativa de que o mercado vai melhorar”, explica Moan.

Entre janeiro e julho, o país registrou a venda de 1,95 milhão de veículos, uma queda de 8,6% ante o mesmo período de 2013. Para evitar os estoques, a produção nacional teve uma queda mais brusca, de 17,4%, na mesma base de comparação. Em 7 meses neste ano, foram montadas 1,82 milhão de unidades no país, depois de um recorde de 2,2 milhões no mesmo período do ano passado.

 Mesmo com a queda, os pátios seguem lotados, com 382,6 mil unidades paradas no fechamento de julho. Esse estoque equivale a 39 dias de vendas no ritmo atual. “Temos empresas que consideram o nível ideal entre 23 ou 25 dias, outras de 30 a 35 dias. O nível varia de acordo com o número de modelos da gama e de concessionários que representam a marca”, afirmou Moan. É uma equação delicada para as montadoras, que perdem dinheiro com veículos parados nas fábricas e concessionárias. Para equilibrar demanda e produção, elas podem elevar as vendas, valendo-se de “saldões”, promoções e propagandas, ou então cortar a produção – o que também não é bom para o setor.

Menor ritmo
A Mercedes-Benz adotou o lay-off para 1,2 mil funcionários (11,5% do total) da planta de São Bernardo do Campo (SP), entre 1º de julho e 30 de novembro, além de restringir a produção de caminhões a apenas um turno e ter um PDV aberto até 25 de agosto. Outra suspensão de contrato foi aprovada na terça-feira para 158 funcionários (19,75% do total) da unidade de Juiz de Fora (MG), que ficarão afastados por cinco meses, do próximo dia 18 até 17 de janeiro de 2015.

A GM, dona da marca Chevrolet, abriu um PDV para as unidades de São Caetano do Sul e São José dos Campos, ambas no estado de São Paulo, mas não informa qual foi o número de adesões. Também foram adotadas férias coletivas, que variaram de 9 a 17 dias em julho para as três plantas, incluindo Gravataí (RS). A fabricante ainda negocia um lay-off em São José dos Campos. Segundo o sindicato local, a GM enviará nesta semana uma carta oficial com a proposta, já que não houve acordo na reunião da última sexta-feira (8). Os trabalhadores exigiam garantia de estabilidade para entrar em acordo.

 A Ford tem um PDV aberto desde novembro de 2013 e recentemente suspendeu contratos 108 trabalhadores (6% do total) em Taubaté (SP) por cinco meses. A planta também reduzirá a jornada de trabalho de 42 horas semanais para 33 horas, para os demais 1,7 mil funcionários. A unidade que produz transmissões e motores Sigma 1.5 já havia concedido férias coletivas para 80% da força de trabalho, entre 9 e 27 de junho.

Também em Taubaté, a Volkswagen concederá férias coletivas para empregados do setor produtivo por 10 dias a partir de 25 de agosto. A multinacional não informou quantos trabalhadores a medida atinge. Segundo sindicatos, em São Bernardo do Campo (SP) há 900 trabalhadores da montadora em lay-off, além de outros 400 em São José dos Pinhais (PR) na mesma situação.

Já a Man Latin America, que produz caminhões e ônibus em Resende (RJ), afirmou que vai suspender o contrato de 100 funcionários pelos próximos cinco meses, após dar férias coletivas para 3 mil dos 5,5 mil colaboradores entre junho e julho.

 A PSA Peugeot Citroën trabalha em dois turnos na fábrica de Porto Real (RJ) desde fevereiro. Além disso, o grupo francês adotou um PDV com meta de adesão de 650 funcionários, para se adequar à nova realidade, fortemente afetada pela queda das exportações à Argentina.

Outra que alegou ter reduzido o ritmo principalmente por causa da crise no país vizinho é a Renault. Cerca de 4 mil colaboradores tiveram férias coletivas de 20 dias (área de utilitários) ou 10 dias (motores e veículos de passeio). A fabricante também suspendeu o terceiro turno em São José dos Pinhais (PR), desde 14 de julho – os trabalhadores foram remanejados para os demais turnos.

A partir desta segunda (11), a Fiat dará férias coletivas de dez dias para um número não divulgado de funcionários em Betim (MG). Cerca de 10 mil veículos deixarão de ser produzidos no período. A Iveco também suspenderá três linhas de produção em Sete Lagoas (MG), por 13 dias úteis no setor de veículos pesados e 10 dias no dos veículos leves. As férias atingem 1,5 mil de 3,7 mil empregados.

Contracorrente
A Toyota não vai conceder férias coletivas em nenhuma planta instalada no Brasil, incluindo Sorocaba (SP), onde é feito o Etios. O mesmo vale para a unidade de Indaiatuba (SP), que fabrica o Corolla.

Outra japonesa, a Honda admite que tem sentido as dificuldades do mercado, mas não tem previsão de PDV ou lay-off na planta de Sumaré (SP), onde é feito o novo Fit.

A Hyundai Brasil trabalha em três turnos na fábrica de Piracicaba (SP) e não tem intenção de reduzir o quadro de funcionários, apesar de ter concedido férias coletivas durante a Copa.

O que permite a lei
A suspensão de contrato (lay-off) é um instrumento aceito pela lei trabalhista desde 2001. A medida pode ter de dois a cinco meses e ocorrer uma única vez a cada 16 meses, sempre mediante acordo com o sindicato. Durante o afastamento, o vínculo com a empresa é mantido e o trabalhador recebe uma bolsa do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), não o salário. O empregado também não pode ser demitido nos próximos três meses após o retorno.

Já o Plano de Demissão Voluntária (PDV) pode oferecer ao empregado pagamento de salários adicionais, assistência médica por determinado período, entre outras assistências, além das verbas rescisórias já previstas na legislação em caso de demissão sem justa causa.

Expectativa
Enquanto os recursos para evitar demissões se esgotam, as montadoras esperam um segundo semestre melhor que o primeiro, com base nos dados históricos e em mais dias úteis. Para o presidente da Anfavea, os números de julho já apontam para isso, com alta de 11,8% nos licenciamentos, em relação a junho. “Não acredito que façamos mais do que férias e lay-offs”, afirmou Luiz Moan.

Essa aposta tem como condição a retomada da economia brasileira, principalmente com relação à liberação de financiamentos. Ainda assim, a projeção da Anfavea para o ano todo é de queda de 10% na produção, de 5,4% nos licenciamentos e 29% nas exportações, na comparação com 2013.

g1.com


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